sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Eu mando, você obedece. Simples não?
























Um é o senhor, manda, bate, humilha, tortura; e gosta disto tudo. O outro a escrava, obedece, apanha, se humilha, é torturado; também gosta disto tudo. Pronto, eis o esqueminha sadomasoquista pronto para uso (pret-a-porter). Nada mais tolo, mais ingênuo, mais perigoso do que imaginar que exista alguma coisa assim.
Senão vejamos.
A relação deve ser consensual, sabemos todos, senão se transforma em mera violência, em agressão. Isto quer dizer que o dominado deve querer e concordar e gostar do castigo que recebe, tanto quanto o dominador gosta, não é incomum, inclusive, que o dominado peça modos e maneiras de apanhar. Mas aqui está algo interessante: Se a escrava ou o escravo sente e diz –Por favor, me bata, e se gosta, goza com isto; então é o dominado que está dominando o dominador? Sim, o senhor está fazendo exatamente o que o escravo quer!
O uso da força bruta, um revolver na cabeça de uma mulher e uma ordem: Chupa! Por exemplo, estabeleceria uma relação de dominação, de poder, de violência. Mas tal coisa é e deve ser abominada e abominável pelos praticantes do sm. O que queremos é o desejo mútuo, a vontade mutua, a cumplicidade. Ora, em sendo assim a relação senhor/escravo obedece a uma dialética que não tem nada de singela: O senhor domina a escrava que domina o senhor por ser dominada por ele, a escrava é dominada do modo como deseja, portanto é o senhor que se subordina às suas vontades. Subordinar-se pelo próprio desejo é um ato de soberania, talvez o maior que a consciência humana possa conhecer. Dominar porque o desejo alheio assim o deseja é ato de generosidade, de contrição.
Punir a uma escrava é uma metáfora pueril. Bater nela? Mas é isto que ela quer! Isto promove a pratica, o jogo erótico entre alguns praticantes do sm do tipo: Eu finjo que errei, ele finge que se irrita, me castiga e nós dois gozamos. Na minha experiência com minhas escravas, cheguei à conclusão que a única maneira de puni-las é não bater. Com isto sim, ficam tristes e procuram não errar mais.
Mas e então? Se desapareceu a aparente polarização entre o ‘eu bato e você apanha’, o que resta? Se não é a diferença de poder o que caracteriza o sadomasoquismo, o que é então?
Está em algo mais profundo, mais essencial do que o teatrinho. Está na orientação do desejo. Alias é sempre ali que está a definição de qualquer sexualidade. O homossexual é quem deseja ao mesmo sexo, seu desejo é orientado para o semelhante (para si mesmo diria Freud).
O sádico deseja o outro, o masoquista deseja o desejo do outro. Eis o que realmente ocorre nesta relação. Você será minha, será a satisfação de todos os meus quereres, quando te bato, o faço para te mostrar que o teu corpo me pertence, que teus gritos partem do meu tesão, quando te amarro, o faço para que saibas que o s teus movimentos são meus. Quando me ajoelho perante tuas vontades, é porque desejo que você me deseje, quero que me queiras, quando te obedeço quero que me queiras.
Você deseja alguém? Quer a ela para si? Então você é sádico. Se gosta de spanking, pissing, etc, é um detalhe que o teu escravo vai resolver. Você quer ser desejada/o? Então você é masoquista. Fique à espreita, procure adivinhar o que teu dono quer, e faça! Saiba desejar o desejo dele, para ser desejada por ele.
O resto são bobagens infantis, coisas para a sala de Chat da Internet. Na vida real, existe o amor. Queremos o amor, perseguimos o amor. Alguns querem o amor entre iguais, outros preferem o amor entre diferentes: Estes são Sadomasoquistas.

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