segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A Arte da submissão







“(...) O vencido tem de dar a entender ao animal mais forte que deixou de constituir uma ameaça e que não tenciona prosseguir a luta. Se o animal se bate até ficar muito ferido ou fisicamente exausto, o animal mais forte afastar-se-á, deixando-o em paz. Mas, se o vencido puder mostrar que aceita a derrota antes de a situação se tornar extremamente infeliz, poderá evitar que a punição vá mais longe. Isto consegue-se através de certas manifestações características de submissão, que apaziguam o atacante, lhe reduzem rapidamente a agressividade, e aceleram o ajuste da discórdia. Estas manifestações de submissão atuam de várias maneiras. Basicamente, ou extinguem os sinais que têm desencadeado a agressão, ou estimulam sinais não agressivos. A primeira categoria de sinais serve apenas para acalmar o animal dominante, enquanto a segunda contribui para mudar ativamente a sua disposição. A forma mais tosca de submissão é a inatividade completa. Como a agressão implica movimento violento, uma posição estática permite automaticamente a interrupção da agressividade. Isto se acompanha muitas vezes de encolhimento e agachamento. Como a agressão comporta expansão do corpo até atingir as dimensões máximas, o encolhimento produz exatamente o contrário e atua como sinal de apaziguamento. Outro gesto valioso é o virar de costas ao atacante, visto tratar-se da posição oposta ao ataque frontal. Há ainda várias outras formas opostas a ameaça. Se determinada espécie ameaça baixando a cabeça, neste caso a elevação da cabeça significa sinal de apaziguamento. Se o atacante eriça os pêlos, o baixar deste serve para manifestar submissão. Em alguns casos raros, o vencido aceitará a derrota expondo ao atacante uma área vulnerável. (...) A segunda categoria de sinais de apaziguamento atua como dispositivo de motivação. O subordinado emite sinais que estimulam respostas não agressivas e que, agindo no interior do atacante, suprimem o respectivo instinto lutador. Há três formas de o conseguir: 1) adoção da atitude juvenil de suplicar comida – os mais fracos agacham-se e suplicam ao dominante, assumindo a posição infantil característica de cada espécie(...) 2) o animal mais fraco adota uma posição sexual feminina – independentemente do sexo ou da disposição sexual, o vencido pode subitamente oferecer o traseiro, tal como as fêmeas fazem – na circunstância, o macho ou fêmea dominante cavalgará o macho ou a fêmea submissa, encenando uma pseudocópula 3) a terceira forma de remotivação implica estimulação de prestação mútua de serviços, tão comum no mundo animal(...) – passado pouco tempo, o dominante fica tão embalado com o jogo, que o mais fraco pode afastar-se são e salvo...”


In “O Macaco Nú” Desmond Morris (1967)

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