quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Atualidade

É impossível percorrer uma gazeta qualquer, seja de que dia for, ou de que
mês, ou de que ano, sem nela encontrar, a cada linha, os sinais da perversi-
dade humana mais espantosa, ao mesmo tempo que as gabolices mais sur-
preendentes de probidade, de bondade, de caridade, e as afirmações mais
descaradas a respeito do progresso e da civilização.
Os jornais, sem exceção, da primeira à ùltima linha, não passam dum
tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes
dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez
de atrocidade universal.
É com esse repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a
sua refeição de cada manhã.
Tudo, nesse mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o semblante
do homem.
Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma
convulsão de repugnância.

Charle Baudelaire - (Meu Coração desnudado)

Aurora

Tive nos braços a aurora de verão.
.......... Nada se movia ainda na fachada dos palácios. A água estava morta. Os campos de sombras não deixavam o caminho do bosque. Caminhei, despertando as respirações vivas e tépidas; e as pedrarias olharam, e as asas se levantaram sem ruído.
.......... O primeiro acontecimento foi, no atalho já pleno de fulgores frescos e pálidos, uma flor que me disse seu nome.
.......... Ri à loura cascata que desceu desgrenhada através dos pinheiros; pelo cimo prateado reconheci a deusa.
.......... Então levantei, um a um, os véus. Na alameda, agitando os braços. Na planície, onde a denunciei ao galo. Na grande cidade, ela fugia entre os campanários e as cúpulas e, correndo como um mendigo sobre os cais de mármore, eu a perseguia.
.......... No alto da estrada, perto de um bosque de loureiros, eu a cingi com seus véus amontoados, e senti um pouco seu imenso corpo. A aurora e a criança caíram na orla do bosque.
.......... Quando acordei, era meio-dia.

Arthur Rimbaud

Hino à dor

Dor, saúde dos seres que se fanam,
Riqueza da alma, psíquico tesouro,
Alegria das glândulas do choro
De onde todas as lágrimas emanam..


És suprema! Os meus átomos se ufanam
De pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro
Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro
De que as próprias desgraças se engalanam!


Sou teu amante! Ardo em teu corpo abstrato.
Com os corpúsculos mágicos do tacto
Prendo a orquestra de chamas que executas...


E, assim, sem convulsão que me alvorece,
Minha maior ventura é estar de posse
De tuas claridades absolutas!

Augusto dos Anjos

Mistérios de um fósforo

Pego de um fósforo. Olho-o. Olho-o ainda. Risco-o
Depois. E o que depois fica e depois
Resta é um ou, por outra, é mais de um, são dois
Túmulos dentro de um carvão promíscuo.


Dois são, porque um, certo, é do sonho assíduo
Que a individual psiquê humana tece e
O outro é o do sonho altruístico da espécie
Que é o substractum dos sonhos do indivíduo!


E exclamo, ébrio, a esvaziar báquicos odres:
— Cinza, síntese má da podridão,
"Miniatura alegórica do chão,
"Onde os ventres maternos ficam podres;


"Na tua clandestina e erma alma vasta,
"Onde nenhuma lâmpada se acende,
"Meu raciocínio sôfrego surpreende
"Todas as formas da matéria gasta!"


Raciocinar! Aziaga contingência!
Ser quadrúpede! Andar de quatro pés
É mais do que ser Cristo e ser Moisés
Porque é ser animal sem ter consciência!


Bêbedo, os beiços na ânfora ínfima, harto,
Mergulho, e na ínfima ânfora, harto,
O amargor específico do absinto
E o cheiro animalíssimo do parto!


E afogo mentalmente os olhos fundos
Na amorfia da cítula inicial,
De onde, por epigênese geral,
Todos os organismos são oriundos.


Presto, irrupto, através ovóide e hialino
Vidro, aparece, amorfo e lúrido, ante
Minha massa encefálica minguante
Todo o gênero humano intra-uterino!


É o caos da ávita víscera avarenta
— Mucosa nojentíssima de pus,
A nutrir diariamente os fetos nus
Pelas vilosidades da placenta! —


Certo, o arquitetural e íntegro aspecto
Do mundo o mesmo ainda é, que, ora, o que nele
Morre, sou eu, sois vós, é todo aquele
Que vem de um ventre inchado, ínfimo e infecto!


É a flor dos genealógicos abismos
— Zooplasma pequeníssimo e plebeu,
De onde o desprotegido homem nasceu
Para a fatalidade dos tropismos. —


Depois, é o céu abscôndito do Nada.
É este ato extraordinário de morrer
Que há de, na última hebdômada, atender
Ao pedido da célula cansada!


Um dia restará, na terra instável,
De minha antropocêntrica matéria
Numa côncava xícara funérea
Uma colher de cinza miserável!


Abro na treva os olhos quase cegos.
Que mão sinistra e desgraçada encheu
Os olhos tristes que meu Pai me deu
De alfinetes, de agulhas e de pregos?!


Pesam sobre o meu corpo oitenta arráteis!
Dentro um dínamo déspota, sozinho,
Sob a morfologia de um moinho,
Move todos os meus nervos vibráteis.


Então, do meu espírito, em segredo,
Se escapa, dentre as tênebras, muito alto,
Na síntese acrobática de um salto,
O espectro angulosíssimo do Medo!


Em cismas filosóficas me perco
E, vejo, como nunca outro homem viu,
Na anfigonia que me produziu
Noniliões de moléculas de esterco.


Vida, mônada vil, cósmico zero,
Migalha de albumina semifluida,
Que fez a boca mística do druida
E a língua revoltada de Lutero;


Teus gineceus prolíficos envolvem
Cinza fetal!... Basta um fósforo só
Para mostrar a incógnita de pó,
Em que todos os seres se resolvem!


Ah! Maldito o conúbio incestuoso
Dessas afinidades eletivas,
De onde quimicamente tu derivas,
Na aclamação simbiótica do gozo!


O enterro de minha última neurona
Desfila... E eis-me outro fósforo a riscar
E esse acidente químico vulgar
Extraordinariamente me impressiona!


Mas minha crise artrítica não tarda.
Adeus! Que eu vejo enfim, com a alma vencida,
Na abjecção embriológica da vida
O futuro de cinza que me aguarda!



Augusto dos Anjos

EU

SOU LOUCO e tenho por memória
Uma longínqua e infiel lembrança
De qualquer dita transitória
Que sonhei ter quando criança.

Depois, malograda trajetória
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa da noite inglória,
O saber e o ousar da aliança.

Só guardo como um anel pobre
Que a todo herdeiro só faz rico
Um frio perdido que me cobre

Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inútil em que fico
Da estrada certa que não sigo.

Fernando Pesoa

A vida...

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?

Charles Chaplim

Quero apenas...

Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

Já perdoeei...

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!

Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" pra ser insignificante.
Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!

Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" pra ser insignificante.

Charles Chaplin

Amantes

"Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza".

Pablo Neruda

Tomara...

Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

Vinícius de Moraes

Sê...

Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Pablo Neruda

Posso escrever os versos...

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Retorno

Pessoal, voltando a ativa após longo e indesejável afastamento, me deparo com boas e com más notícias no blog. Vamos primeiro às boas. Que bom receber a visita de pessoas inteligentes, atentas ao universo BDSM, e com coisas interessantes e importantes a compartilhar. Mas, amigos, que ridículo receber mensagens anônimas com idéias mais ridículas ainda, tentando deturpar nosso lindo universo BDSM...recado a essas pessoas: não aceito qualquer comentário ou crítica que não seja feita, democraticamente, por pessoa plenamente identificálvel. De resto, vão chorar no pau da bandeira, e nos poupem de suas idéias ridículas e sem nexo. Estou aqui pro que der e vier...na defesa de nossos ideais....abraços.

SeuDonoeSenhor

SDS

domingo, 20 de julho de 2008

Relaxe e goze

Depravação? Libertinagem? Bizarrice? Longe disso: as fantasias sexuais são saudáveis. Anormal é não ter nenhuma

Airton Seligman / Adriano Sambugaro

Patrícia atinge rapidamente o orgasmo quando imagina estar sendo estuprada. Carlos gosta de pensar que está transando com uma garota de 16 anos. João vai às alturas quando pede para prostitutas urinarem nele. Para se excitar, Patrícia, Carlos e João lançam mão de fantasias sexuais. Você pode achar esses personagens um pouco pervertidos – fomos acostumados a pensar que tipos como eles devem carregar alguma patologia. Tente olhar no espelho: você nunca teve uma fantasia? Vamos lá: você prefere um companheiro(a) de coxas grossas e peito grande, ou um parceiro(a) frágil, minhonzinho? Você se liga mais numa figura que tome a iniciativa ou curte uma pessoa mais passiva? Temos preferência por traços físicos e temperamentais e isso não acontece por acaso. Elas também implicam alguma forma de fantasia. Em maior ou menor escala, quando o negócio é sexo, todos nós recorremos a fantasias, mundanas ou bizarras. O legal é saber como elas funcionam e tirar o maior proveito da situação.

Esse mundo onírico é criado por nós, voluntária ou involuntariamente, para compensar as forças negativas, "broxantes", que brotam dos nossos medos, culpas ou preocupações. São sentimentos que a gente carrega desde a infância. Se você sente vergonha do seu corpo, por exemplo, fica difícil relaxar e curtir o sexo. Digamos que você se preocupe demais com o prazer do outro: o risco é esse tormento tomar conta e você esquecer o próprio tesão. Ou então vai que você se sinta um egoísta, ou até meio bruto, na hora do vamos ver: aí vem a culpa e derruba sua libido. Na cabeça, você ainda pensa em transar, certo? Mas o que fazer se um ou outro desses sentimentos joga o tesão para escanteio?

É aí que entram a Madonna, o Brad Pitt, as algemas, a roupa de couro... Com a fantasia, você "esquece" a vergonha, a preocupação ou a culpa. O funcionamento desse processo, segundo o psicanalista americano Michael J. Bader, autor de Arousal: The Secret Logic of Sexual Fantasies (Excitação: a lógica secreta das fantasias sexuais, ainda inédito no Brasil), é o seguinte: a fantasia ajuda a criar um ambiente no qual nos sentimos seguros para deixar aflorar nossa excitação. Segurança, como se sabe, é tudo o que sempre buscamos desde o nascimento. E segurança emocional é uma das metas mais preciosas. O conceito de segurança é a base da teoria da excitação sexual de Bader.

As fantasias, portanto, são saudáveis, libertadoras. "O fato de que atitudes não-convencionais como sadomasoquismo, exibicionismo ou fetichismo podem excitar algumas pessoas é uma prova do poder criativo da psique humana de dar prazer a si mesma das maneiras mais incomuns, enquanto se mantém protegida", afirma Bader. O exercício da fantasia, no plano mental ou no plano prático, varia de pessoa para pessoa, mas ninguém ao certo sabe por que alguns indivíduos põem seus devaneios em prática e outros, não. Em parte, isso depende da densidade dos conflitos individuais e mesmo do grau de iniciativa de cada um. Mas, segundo o psicanalista, uma fantasia nem sempre deve redundar em uma experiência real.

No caso de partir para a prática, o ideal é que os parceiros tenham intimidade suficiente para se sentir à vontade – isto é, liberados para pensar na própria excitação, mesmo que isso acarrete ser rude, bruto. "A excitação sexual requer inerentemente uma capacidade de ser egoísta, de virar as costas para o bem-estar do outro, de ser todas as coisas que uma pessoa culpada cresceu acreditando serem ruins e perigosas", diz Bader.

A teoria

Afinal, o que há de tão ruim e perigoso na infância que devemos combater? Na infância, consolidamos o que Bader, citando o psicanalista Joseph Weiss, descreve como crenças patogênicas. São convicções irracionais, inconscientes, que agem contra nossos interesses – comportamentos autodestrutivos, por exemplo –, que introjetamos quando nos deparamos com o perigo de perder a proteção dos pais, seu amor. Desde cedo, fazemos de tudo para deixar nossos pais felizes e evitar assim uma eventual ruptura com eles. Por exemplo, se o pai é negligente, a criança sente ameaçada a ligação que os une. O que ela faz? Ela acaba mudando as únicas coisas sobre as quais tem controle: seus pensamentos e sentimentos. Ela tenta fazer o ambiente parecer normal para se sentir segura nele. No caso citado, ela passa a achar natural a falta do pai. "Ela passa a achar que solicitar uma atenção especial é proibido, é pedir demais", diz Bader.

"Não só aceita a negligência, como faz parecer que a culpa é dela, não de seus pais. Parece que ela quer demais." Assim, a criança busca manter a segurança no relacionamento familiar. "Essas experiências fazem surgir crenças patológicas que nos induzem a pensar que, se perseguirmos nossos objetivos, estaremos arriscando a ligação com nossos pais ou ameaçando nossa segurança psicológica", afirma o psicanalista. É sabido, por exemplo, que crianças que sofrem abuso dos pais se negam a condená-los. Por quê? Isentando os velhos, não há como perdê-los.

A sensação de culpa é apenas uma dessas crenças patogênicas. Vergonha, rejeição, desamparo e autodestruição são outros sentimentos da lista. Há duas culpas mais comuns: a) de magoar a quem amamos se formos mais felizes ou mais bem-sucedidos que eles; b) de ferir ou esvaziar nossa família se a deixarmos.

O que isso tem a ver com sexo? Com maior ou menor intensidade, todo mundo revive o passado no presente. E, conforme a teoria de Bader, a excitação sexual depende da nossa capacidade de nos centrarmos em nós mesmos, de sermos momentaneamente egoístas. Mas como conseguir isso, se o nosso passado de culpas nos assombra nessa hora? Ao nos sentirmos culpados, nos inibimos, e aí a conquista do prazer vira um martírio.

Segundo o psicanalista, o apego aos próprios devaneios e, por extensão, uma certa "coisificação" do parceiro são necessários para a excitação – mas também é preciso pegar leve com esses sentimentos. Para atingir o prazer máximo, diz ele, o ideal é haver uma certa tensão entre ser egoísta e cuidadoso, entre usar o parceiro e dar prazer a ele. O problema surge quando um dos envolvidos não consegue nenhum grau de impiedade, de rudeza.

Fantasias mais comuns

Não há como associar automaticamente uma fantasia específica a um determinado conflito psicológico. Ainda assim, e mesmo advertindo que generalizações são um passo para o erro, Bader afirma ser possível estabelecer alguns padrões.

Preferências por tipos físicos

• Homens altos: simbolizam força, alguém que dificilmente será ferido ou magoado e de quem o parceiro pode depender. Para uma mulher que suspeita poder esmagar um cara (em vários sentidos), esse atributo a deixaria bem mais tranqüila para curtir o próprio tesão.

• Mulheres gordas: podem simbolizar fartura, abundância, fertilidade. Uma pessoa que se excita com esse biótipo imagina que a mulher tenha muito a dar, especialmente em atributos maternos; que seja alguém capaz de neutralizar seus sentimentos de privação. Para ele (ou ela), essa mulher pode ser uma pessoa tão cheia de recursos que é incapaz de ser ferida, daí mitigando seu sentimento de culpa. Ele (ou ela) também pode pensar: "Com esse tamanho, ela não tem do que reclamar..." e se sentir mais leve para se excitar.

• Peitos grandes: também podem simbolizar a mulher com muito para dar, compensando sentimentos de privação e desligamento. Homens com certo desdém secreto por mulheres – que se sentem culpados por esse sentimento – podem inconscientemente exagerar sua admiração pelo atributo mais óbvio da feminilidade, os seios.

• Pênis grande: esse fetiche simboliza, antes de tudo, força. Um homem forte neutraliza várias culpas. Mais: quando uma pessoa fala em "ser arrombada" ou "preenchida", pode estar tratando com simbolismos de satisfação, abastecimento, cuidado – sensações que combatem sentimentos de privação.

• Deformações, mutilações e invalidez: para homens, uma mulher inválida pode diminuir sentimentos de culpa inconsciente, uma vez que, já incapacitada, na fantasia ela não mais pode ser machucada. O processo mental que funciona aqui é o mesmo que se passa na cabeça de quem se excita com mulheres gordas: sem atrativos extras, as parceiras não teriam do que reclamar, deixando o homem com menos medo de rejeição. As mulheres que sentem atração por homens inválidos ou "defeituosos" se deixam levar pelo mesmo astral psicológico, com um adendo: homens incapacitados não podem feri-las, o que lhes permite se excitar em segurança.

• Mulher que se excita com gays: ela pode se sentir sexualmente mais agressiva, já que supõe que sua iniciativa não terá reciprocidade. São mulheres que sentem medo de serem subjugadas ou rejeitadas e também de surpreender negativamente o homem com a força da sua sexualidade. Há ainda o fator desafio: a mulher se sente especialmente atraente se conseguir fazer um homossexual agir como heterossexual.

Voyeurismo

Olhar outros transando é só uma das maneiras de o voyeur se motivar. Ele pode se excitar com uma simples espiada por baixo da saia de garotas ou espreitá-las na intimidade. O que rola nesses casos? A excitação da "espiadinha" reside, primeiro, no fato de que aquilo é proibido. A mulher estaria entregando seus segredos. Segundo, o voyeur é um cara que pode carregar culpa por se interessar pelo corpo feminino: a mulher, na cabeça dele, se sentiria ofendida por tal demonstração. Sabendo que a moça não vai perceber o que ele faz – e assim não pode se opor –, a culpa vai para o espaço. Não só a culpa, mas também a rejeição pode ser o motor do voyeur. Algumas crianças acham que não são bem-vindas no contato com a mãe e sentem-se rejeitadas. Na fase adulta, esse sentimento é compensado pela espiadinha. Ou seja, é um momento roubado de uma mulher, antes negada a ele. Com o sentimento de rejeição neutralizado, a excitação ganha corpo.

Sexo grupal

O ménage à trois, com um homem e duas mulheres, é a forma de sexo em grupo mais conhecida, mas há inúmeras variações. O que se depreende do sexo em grupo é:

• A pessoa que fantasia está buscando atenção, portanto tentando derrubar a crença patogênica de que não merece ser admirado, amado.

• O fato de transar com vários ao mesmo tempo pode mitigar o sentimento de culpa que algumas pessoas têm por sobrecarregar o parceiro com seu apetite sexual.

• Com a presença de dois homens, a suposta responsabilidade de satisfazer a mulher é dividida.

• Se a responsabilidade de um parceiro sobre o prazer sexual do outro diminui, o perigo de rejeição cai na mesma proporção.

• Quando um homem assiste a uma cena lésbica, ele não está diretamente envolvido, portanto ele não corre o risco de falhar.

• Se um homem ou mulher tem desejos homossexuais, mas se sente culpado por isso, olhar ou participar de sexo grupal pode ser um caminho para driblar essa culpa.

Todas essas situações favorecem a segurança psicológica do integrante, o que o libera para sentir prazer.

Homem que veste calcinhas

É provável que ele esteja tentando superar a culpa por exercer algum poder, por exercer sua masculinidade. E por que se sente culpado dela? Talvez por ter crescido com um pai fraco ou inútil ou uma mãe infeliz e invejosa dos homens. Quando criança, pode ter encontrado dificuldade para sentir orgulho da sua masculinidade, pois inconscientemente estaria magoando seus pais. Por exemplo, um filho pode crescer culpado por se sentir superior a uma mãe sobrecarregada ou oprimida, e, mais tarde, às mulheres em geral. E como vestir calcinha resolve o pepino? Por um processo chamado pelos psicanalistas de "identificação com a vítima". Como a masculinidade em vários momentos tem sido equiparada ao ato de oprimir a mulher, as calcinhas fazem esse homem assegurar às mulheres – originalmente sua mãe – que ele, em particular, não é superior. Com a culpa aliviada, a ereção começa a surgir.

Fraldas e comportamento de bebê

Sabe-se que um bebê deve receber atenção e tem o direito de ser egoísta. Sim, mas o que isso tem a ver com um cara ou uma mulher que gosta de vestir fraldas e de ser tratado como bebê (os homens, até mesmo, mamando)? A chave está na ausência de responsabilidade – especialmente a de fazer a mulher feliz, meta que pode ser pesada e angustiante. Quando "amamentado", o homem se sente numa situação psicológica confortável para pedir e receber algo de uma mulher – sem culpa ou vergonha.

Exibicionismo

Por que, afinal, filmar a própria transa ou se exibir para uma câmera excita? Porque a pessoa se sente gratificada pela atenção. Aqui, identifica-se uma tentativa de controlar sentimentos de rejeição e descaso. Uma pessoa que não foi o foco da atenção dos pais, por exemplo: ser olhada por uma câmera compensa a sensação de que não é merecedora de atenção, o que lhe permite o florescimento do tesão.

No caso dos flashers (homens exibicionistas que gostam de chocar mostrando a genitália a mulheres), a coisa é uma pouco diferente. O cara pode estar querendo controlar justamente sua vergonha. Como? Da mesma forma que gente que sente medo de altura salta de bungee jump para domar seu temor. O sujeito que mostra o pênis – a fonte da sua vergonha, insegurança – pode estar tentando controlá-la. Uma segunda leitura sugere que exibicionismos desse tipo podem ser um ato de compensação pelo fato de o sujeito ter sido rejeitado ou não ter recebido a devida atenção dos pais. Com um "flash" da sua genitália, ele provoca choque, nojo e medo da mulher. Deixa de ser, ainda que por alguns momentos, invisível ou negligenciado. A partir daí, se sente seguro para se excitar.

Estupro

Mais comum nos homens, a fantasia do estupro ocorre de duas maneiras. Na primeira, a mulher a princípio luta contra a agressão, depois acaba gostando e goza. O significado: o "estuprador" está tentando controlar sentimentos de culpa por magoar ou ferir outras pessoas, geralmente mulheres. Ele cria uma fantasia em que parece estar machucando a parceira, mas, na realidade, não está – afinal, ela aceita a agressão e não se fere. A outra forma de fantasia com estupro não depende da excitação da mulher. A carga erótica é justamente depositada na agressão. O estuprador se excita não porque supera a culpa, mas porque tem o poder de ferir e amedrontar a mulher. Essa pode ser a fantasia que motiva a maioria dos estupros reais. Nesse caso, ocorre o que os psicanalistas chamam de "identificação com o agressor".

O estuprador, na fantasia ou na realidade, está fazendo à mulher aquilo que ele já vivenciou, de alguma maneira. Ao se tornar o agressor, ele pode sentir-se momentaneamente aliviado do medo e do desamparo (de que foi vítima), que são inimigos da excitação.

Mestre e escravo

É uma fantasia similar à do estupro – isto é, o mestre age de forma egoísta e rude, sem conseqüências negativas, sem dor de consciência e superando a culpa, já que a vítima também fica excitada. Mas aqui há uma outra dinâmica, crucial em qualquer relação sexual: o mestre e o escravo dão um ao outro uma atenção e um reconhecimento especial, que neutralizam a eventual sensação de alguém se achar pouco importante (resultado de rejeição, por exemplo). Mesmo o escravo, que prefere receber atenção negativa a ser ignorado.

Estupro coletivo

Filmes pornográficos abusam dessa fantasia. Aqui, vê-se a mesma fonte libertadora da excitação sexual: a segurança. A responsabilidade se transfere do indivíduo para o grupo. Na fantasia, ao contrário da violência levada à prática, o estupro se torna um ato consensual entre uma mulher promíscua e vários homens. E isso é o que deixa os homens à vontade para expressar a sua sexualidade sem medo de ferir a mulher.

Escatologia

Alguns homens sentem-se excitados sexualmente pelo fato (real ou imaginário) de alguém, normalmente uma mulher, urinar (golden shower) ou defecar (brown shower) sobre eles. Um garoto que cresce sentindo-se culpado por desprezar a mãe ou se envergonhar dela reverte essa situação dolorosa ao expor a si próprio como objeto de desprezo e degradação. Urina e fezes são a representação simbólica do sentimento de hostilidade que uma vez foi dirigido a uma mulher, mas agora estão sendo recebidos de uma mulher.

Resumindo: nos jogos amorosos, vale tudo para vencer os medos e sentimentos broxantes. E, convenhamos: depois de ver os caminhos que a excitação de cada um percorre para vencer o medo e a culpa, aquela sua fantasia já não parece tão estranha ou merecedora de culpa, não?

Submissão, entrega, sadomasoquismo e outras taras: vale qualquer coisa para pôr para escanteio os sentimentos que atrapalham o prazer sexual

Voyeurismo: quem gosta de olhar quer, na verdade, livrar-se da culpa adquirida na infância

Algumas fantasias sexuais estão tão impregnadas no imaginário coletivo que já se confundem com sexo. Que homem não se excita ao ver esta imagem?

Brincar de escravo e mestre pode parecer rude, mas os papéis permitem a cada amante curtir o próprio prazer

A fantasia cria ambientes seguros para deixarmos aflorar a excitação.


Revista Superinteressante/Setembro2002/Edição 180


quarta-feira, 16 de julho de 2008

Obsessão

Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.

Gabriel Garcia Marquez - in Memórias de Minhas Putas Tristes - Pg. 74

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O Senhor e o escravo

Dois homens lutam entre si. Um deles é pleno de coragem. Aceita arriscar sua vida no combate, mostrando assim que é um homem livre, superior à sua vida. O outro, que não ousa arriscar a vida, é vencido. O vencedor não mata o prisioneiro, ao contrário, conserva-o cuidadosamente como testemunha e espelho de sua vitória. Tal é o escravo, o "servus", aquele que, ao pé da letra, foi conservado.

a) O senhor obriga o escravo, ao passo que ele próprio goza os prazeres da vida. O senhor não cultiva seu jardim, não faz cozer seus alimentos, não acende seu fogo: ele tem o escravo para isso. O senhor não conhece mais os rigores do mundo material, uma vez que interpôs um escravo entre ele e o mundo. O senhor, porque lê o reconhecimento de sua superioridade no olhar submisso de seu escravo, é livre, ao passo que este último se vê despojado dos frutos de seu trabalho, numa situação de submissão absoluta.

b) Entretanto, essa situação vai se transformar dialeticamente porque a posição do senhor abriga uma contradição interna: o senhor só o é em função da existência do escravo, que condiciona a sua. O senhor só o é porque é reconhecido como tal pela consciência do escravo e também porque vive do trabalho desse escravo. Nesse sentido, ele é uma espécie de escravo de seu escravo.

c) De fato, o escravo, que era mais ainda o escravo da vida do que o escravo de seu senhor (foi por medo de morrer que se submeteu), vai encontrar uma nova forma de liberdade. Colocado numa situação infeliz em que só conhece provações, aprende a se afastar de todos os eventos exteriores, a libertar-se de tudo o que o oprime, desenvolvendo uma consciência pessoal. Mas, sobretudo, o escravo incessantemente ocupado com o trabalho, aprende a vencer a natureza ao utilizar as leis da matéria e recupera uma certa forma de liberdade (o domínio da natureza) por intermédio de seu trabalho. Por uma conversão dialética exemplar, o trabalho servil devolve-lhe a liberdade. Desse modo, o escravo, transformado pelas provações e pelo próprio trabalho, ensina a seu senhor a verdadeira liberdade que é o domínio de si mesmo. Assim, a liberdade estóica se apresenta a Hegel como a reconciliação entre o domínio e a servidão.


A Fenomenologia do Espírito - Hegel

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A Bela Adormecida diferente

“Minha querida, acordei você do sonho de um século inteiro e recuperei o reino de teu pai. És minha. Não serei um dono duro demais, apenas um dono muito cuidadoso, atento. Quando você conseguir pensar apenas em me dar prazer, noite e dia, a cada momento, as coisas serão mais fáceis para você. Agora quero que você se renda a mim. Chegará o dia em que você não enxergará nada que não parta de mim, porque eu serei o seu sol, a sua luz, o dia em que eu serei tudo pra você: sua comida, bebida, o ar que você respira. Então serás minha de verdade, e estas primeiras lições...e prazeres...parecerão nada”.


Anne Rice - in O Rapto da Bela Adormecida.


sexta-feira, 6 de junho de 2008

Pertencer

Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!


Clarice Lispector - in A Descoberta do Mundo

sábado, 17 de maio de 2008

Assim Falou Zaratustra

"Quem quer aprender a voar, precisa primeiro aprender a ficar de pé e a andar e a subir e dançar: a arte de voar não se aprende voando!

Aquele que ensinar os homens a voar afastará todos os limites, batizará a terra de novo como A Leve.
Quem quer se tornar leve e se transformar em pássaro deve se amar.
O homem é uma corda estendida entre a besta e o Super Homem - uma corda sobre o abismo.É perigoso passar de um lado ao outro, perigoso ficar no caminho, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.
O que há de grande no homem é que ele é uma ponte e não um fim: o que se pode amar no homem é que ele é uma passagem e uma queda.
Por trás dos teus pensamentos e teus sentimentos, irmão, há um soberano possante e um sábio desconhecido. Ele mora no teu corpo, é teu corpo.
Há mais razão no teu corpo que na tua melhor sabedoria.
Há sempre um pouco de loucura no amor.
Mas há sempre um pouco de razão na loucura. E mesmo eu, que estou voltado para a vida, acho que as borboletas, as bolhas de sabão e o que se assemelha a elas entre os homens são o que melhor conhece a felicidade.
Ver voar essas alminhas leves, loucas, graciosas e móveis - isso dá a Zaratustra vontade de chorar e cantar.Eu não poderia acreditar num deus que não soubesse dançar.
Agora sou leve, agora vôo, agora me vejo abaixo de mim mesmo, agora um deus dança através de mim. Estou agora diante do meu último cume.
Tenho diante de mim meu caminho mais duro. Começo minha corrida mais solitária.Acima da tua cabeça e além do teu coração. Agora a coisa mais doce em ti deve se tornar a mais dura.Precisas subir andando sobre ti. Mais alto, mais alto até que as estrelas fiquem lá embaixo.Céu acima de mim, céu puro. Profundo. Abismo de luz. A te contemplar tremo de desejos divinos. Saltar na tua altura - eis o meu abismo. Ensconder-me na tua pureza, eis minha inocência.Todo a minha vontade é só voar, voar para entrar em ti!
O belo corpo vitorioso em torno do qual tudo se transforma em espelho.
O corpo ágil, o dançarino cujo símbolo é alma feliz consigo mesma. Toda alegria quer a eternidade, a profunda, profunda eternidade. Assim fala a sabedoria do pássaro: Não há alto nem baixo. Lança-te para todos os lados, para frente, para trás, homem leve.
Não fala mais.
Canta."

Nietzsche - in Assim Falou Zaratustra


Coleção "Os Pensadores" - Nietzsche - Vol. I - Editora Nova Fronteira

O carrasco de si mesmo

A J.G.F.

Vou te bater sem me irritar,
Sem ódio, como um açougueiro,
Como Moisés contra o outeiro!
E arrancarei do teu olhar,

Para irrigar os meus saaras,
As águas que brotam da dor.
Esperançoso, o meu amor
Irá nas lágrimas amaras

Para alto mar como um vapor
E o teu soluçar adorado
Meu coração embriagado
Fará bater como um tambor!

Não serei eu um falso acorde
No som do divino coral,
Culpa da ironia fatal
Que me arrebata e que me morde?

Ela distorce a minha voz!
É meu sangue, negro veneno!
E eu sou o espelho obsceno
Onde ela se enxerga, atroz!

Sou a espada e o degolado!
Sou a ferida e o punhal!
Sou a vítima, sou o mal,
Torturador e torturado!

Vampiro do meu coração,
Sou um dos grandes rejeitados
Ao riso eterno condenados
E que nunca mais sorrirão!

Charles Baudelaire - in Flores do Mal

sábado, 3 de maio de 2008

Mantra para uma submissa








Eu não quero ser o líder. Eu me recuso a ser o líder. Eu quero viver obscura e ricamente em minha feminilidade. Eu quero um homem que esteja acima de mim, sempre acima de mim. Seu querer, seu prazer, seu desejo, sua vida, seu trabalho, sua sexualidade, o critério, o comando, meu pivô. Eu não me importo em trabalhar, tendo minha própria ocupação intelectual, artística; mas como uma mulher, oh Deus, como uma mulher eu quero ser dominada. Eu não ligo que digam para que eu caminhe com meus próprios pés, para não depender em tudo que eu sou capaz de fazer. Mas eu sou perseguida, fodida, possuída pela vontade de um homem em seu tempo, seu comando.


Anais nin

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Até cortar os defeitos pode ser perigoso...

1947, Berna - Suíça

“Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro... Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você, sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma”

Clarice Lispector -
in Correspondências

100 Escovadas Antes de Ir para a Cama - Trecho do livro









Tem dias que não sei se devo parar de respirar definitivamente ou se fico em
apnéia durante todo o tempo que me resta. Dias em que debaixo das cobertas respiro e
engulo minhas lágrimas sentindo o sabor delas na língua. Levanto de uma cama
desarrumada com os cabelos despenteados e com a pele violentada. Nua, diante de um
espelho, observo meu corpo. Vejo uma lágrima escorrendo dos olhos pelas faces,
enxugo com um dedo e arranho um pouco a bochecha com a unha. Passo as mãos nos
cabelos, puxo para trás, faço uma careta só para parecer simpática e rir de mim mesma:
mas não consigo, quero chorar, quero me punir. Vou até a primeira gaveta da mesinha.
Primeiro examino tudo que tem dentro, depois separo com cuidado o que quero vestir.
Boto as roupas dobradas em cima da cama e ponho o espelho bem em frente do lugar
onde estou. Observo novamente o meu corpo. Os músculos ainda estão tensos, a pele,
no entanto, é macia e lisa, branca e imaculada como a de uma menina. E uma menina é
o que sou. Sento na beira da cama, enfio as meias esticando a ponta do pé e fazendo o
véu fino deslizar até que a borda rendada chegue à coxa, apertando um pouco. Depois é
a vez do corpete de seda preta com cordões e fitinhas. Aperta meu busto e afina a
cintura que já é bem fina, evidenciando ainda mais os quadris, muito bem providos,
redondos e macios demais para evitar que os homens desagüem ali as suas bestialidades.
Os seios ainda são pequenos: duros, brancos, redondos, cabem nas mãos e podem
esquentá-las com seu calor. O corpete é estreito, os seios ficam comprimidos, apertados
um contra o outro. Ainda não é chegado o tempo de admirar-me. Calço as botas de salto
agulha, enfio o pé até o tornozelo delicado e sinto que meu metro e sessenta ganha
repentinamente dez centímetros. Vou até o banheiro, pego o batom vermelho e banho
meus lábios suculentos e macios; depois aumento os cílios com rímel, penteio os
cabelos longos e lisos e vaporizo três vezes o perfume que estava em cima do espelho.
Volto para o quarto. Lá verei a pessoa que me faz vibrar a alma e o corpo com força.
Examino-me encantada; uma luz especial contorna meu corpo, e meus cabelos caídos
suavemente nos ombros convidam-me a acariciá-los. A mão cai vagarosamente dos
cabelos, quase sem que eu perceba, para o pescoço, acaricia a pele delicada, e dois
dedos envolvem sua circunferência apertando de leve. Começo a ouvir o som do prazer,
ainda quase imperceptível. A mão desce um pouco mais, começa a acariciar o peito liso.
A menina vestida de mulher que está diante de mim tem os olhos acesos e ávidos (de
quê? de sexo? de amor? de vida verdadeira?). A menina só é senhora de si mesma. Seus
dedos emaranham-se entre os pêlos de seu sexo e o calor lhe provoca um
estremecimento da cabeça. Mil sensações me invadem.
- Você é minha - sussurro, e logo a excitação toma posse do meu desejo.
Mordo os lábios com os dentes perfeitos e brancos, os cabelos descompostos
fazem minhas costas suarem, pequenas gotas enchem meu corpo de pérolas.
Ofegante, os suspiros aumentam... Fecho os olhos, meu corpo tem espasmos por
todo lado, minha mente está livre e voa. Os joelhos cedem, a respiração é curta e a
língua percorre os lábios, cansada. Abro os olhos: sorrio para a menina. Aproximo-me
do espelho e lhe ofereço um beijo longo e intenso, minha respiração embaça o vidro.
Sinto-me sozinha, abandonada. Sinto-me como um planeta em cuja órbita giram
três estrelas diversas: Letizia, Fabrizio e o professor. Três estrelas que me fazem
companhia em pensamento, mas não na realidade.


100 Escovadas Antes de Ir para a Cama - Melissa Panarello

quarta-feira, 30 de abril de 2008

A vida é dôr...

Quem deseja, sofre; quem vive, deseja; a vida é dor.

Quanto mais elevado é o espírito do homem, mais sofre.

A vida não é mais do que uma luta pela existência com a certeza de sermos vencidos.

A vida é uma incessante e cruel caçada onde, às vezes como caçadores, outras como caça, disputamos em horrível carnificina os restos da prêsa.

A vida é uma história da dôr, que se resume assim: sem motivo queremos sofrer e lutar sempre, morrer logo, e assim consecutivamente durante séculos dos séculos, até que a Terra se desfaça.

Schopenhauer

Mais vale nada saber...

"Mais vale nada saber do que saber de muitas coisas só metade! Mais vale ser um louco à minha maneira do que um sábio ao sabor dos outros! Eu vou ao fundo, que importa que seja grande ou pequeno? Que se chame céu ou pântano? Um fundo grande como uma mão é suficiente para mim: desde que seja um verdadeiro terreno! um fundo grande como a mão: aí pode uma pessoa estar de pé. No verdadeiro saber da consciência nada há de grande ou de pequeno."

Assim falou Zaratustra-
Nietzsche

Irina Palm-Sinopse do filme









Apesar de despender todos os recursos para salvar seu neto Ollie, que está com uma grave doença, Maggie não consegue pagar o tratamento. Seu filho Tom, também sem condições, descobre na Austrália uma alternativa gratuita para o garoto, mas para isso eles precisam do dinheiro das passagens e da hospedagem. O desespero toma conta de Maggie, que já vendeu tudo o que tinha, até que ela é atraída por um anúncio de emprego como atendente em um clube de sexo.

Ao procurar mais informações, descobre que a vaga é, na verdade, de "masturbadora". Apesar de seu recato, a viúva se sente pressionada pela possibilidade da morte do neto, e a chance de altos ganhos faz com que aceite o trabalho. Com o passar dos dias e um nome artístico, Irina Palm se torna a melhor da cidade, conseguindo ganhar o suficiente para as despesas. Porém, a dificuldade de manter duas vidas faz com que ela se afaste de suas amigas e da família.

Irina Palm é dirigido por Sam Garbarski, o mesmo de O Tango de Rashevski. A protagonista é interpretada pela cantora Marianne Faithfull, famosa nos anos 60, principalmente por sua relação com os Rollings Stones, que inclui um caso com Mick Jagger. O filme participou da seleção oficial do Festival de Berlim de 2007.

Matéria no Uol

Trailer


domingo, 13 de abril de 2008

A Vontade




As cenas de nossa vida são como imagens em um mosaico tosco; vistas de perto, não produzem efeitos – devem ser vistas à distância para ser possível discernir sua beleza. Assim, conquistar algo que desejamos significa descobrir quão vazio e inútil este algo é; estamos sempre vivendo na expectativa de coisas melhores, enquanto, ao mesmo tempo, comumente nos arrependemos e desejamos aquilo que pertence ao passado. Aceitamos o presente como algo que é apenas temporário e o consideramos como um meio para atingir nosso objetivo. Deste modo, se olharem para trás no fim de suas vidas, a maior parte das pessoas perceberá que viveram-nas ad interim [provisoriamente]: ficarão surpresas ao descobrir que aquilo que deixaram passar despercebido e sem proveito era precisamente sua vida – isto é, a vida na expectativa da qual passaram todo o seu tempo. Então se pode dizer que o homem, via de regra, é enganado pela esperança até dançar nos braços da morte! Novamente, há a insaciabilidade de cada vontade individual; toda vez que é satisfeita um novo desejo é engendrado, e não há fim para seus desejos eternamente insaciáveis. Isso acontece porque a Vontade, tomada em si mesma, é a soberana de todos os mundos: como tudo lhe pertence, não se satisfaz com uma parcela de qualquer coisa, mas apenas como o todo, o qual, entretanto, é infinito. Devemos elevar nossa compaixão quando consideramos quão minúscula a Vontade – essa soberana do mundo – torna-se quando toma a forma de um indivíduo; normalmente apenas o que basta para manter o corpo. Por isso o homem é tão miserável.

Arthur Schopenhauer

imagem:


O Tempo eleva a Verdade dentre a Disputa e a Inveja

Nicolas Poussin, 1640-2
Musée du Louvre, Paris


sábado, 12 de abril de 2008

Falso dominador













Um dos assuntos discutidos no meio BDSM é a figura do "falso Dominador".

Com a facilidade da internet essa figura aparece como papel trazido pelo vento e faz suas "vitimas" entre as incautas submissas, não menos ignorantes no assunto que ele.

O falso Dominador não tem em si vocação para Dominar, não é sádico, nem compreende toda a responsabilidade do jogo de Dominação e submissão. Não gosta nem sente prazer no jogo por inteiro. Está apenas interessado em sexo fácil e imagina ter numa submissa apenas isso, alguém de quem possa abusar, satisfazendo sua lascívia sexual comum, que talvez tenha dificuldade para realizar com mulheres "baunilha" - comuns - que muitas vezes exigem compromissos e se mostram mais limitadas sexualmente. Depois ele, como bom cafajeste e não fazendo idéia do que seja submissão, Dominação, Sadismo e masoquismo, passa a desprezar ou se desfaz da incauta como quem joga fora a embalagem do bombom que acabara de comer. Não têm nenhum compromisso com ética ou seriedade, querem apenas sexo e com urgência. Isto é diferente de não aprovar a submissa após algumas sessões de avaliação ou treinamento, pois os objetivos são diferentes dos objetivos do falso Dominador.

Estes homens ouvem falar em Dominação e submissão através da internet, um dos meios de informação mais práticos hoje em dia, e uma idéia "genial" lhes vêm à mente: Se virar(me passar por) um Dominador poderei conseguir uma escrava e, assim sendo, posso fazer com ela tudo o que eu quiser, então, poderei satisfazer todos os meus desejos sexuais, que ela, em sua condição de escrava, ainda nada poderá me exigir. É perfeito! e, imaginando que escravas submissas são mulheres fáceis que aceitam qualquer um, partem para os chats em busca delas, excitados com a falsa idéia de que são meras "vadias", sedentas de sexo e que cairão fácil da dele.

Amantes comuns, para quem não pode se envolver demais, pode ser um problema, então passar a ser um Dominador pode ser conveniente. Já que escravas devem ser obedientes e se portar da forma como este determinar, não lhe criarão problemas. Geralmente tais dominadores não dão nenhum valor à submissão, não vêem numa submissa uma parceira de valor, com quem poderão exercer o seu sadismo, até porque não há sadismo, mas apenas uma "vadia", que atende convenientemente ao seu propósito sexual comum ou fetiche, coisa a que uma "baunilha chata" - mulher comum e preconceituosa - que exige compromisso, nem sempre se dispõe.

Muitas vezes o suposto Dominador percebe rápido o seu engano quanto a encontrar sexo fácil, se decepciona e não volta a aparecer, mas por outras o indivíduo é persistente e passa a figurar entre os adeptos sinceros de BDSM, até que acaba por convencer e encontrar uma parceira, com quem vai praticar o "seu BDSM" desvirtuado, sendo muitas vezes até manipulado e vergado pela suposta sub para conseguir o que quer - sexo.

Alguns leram ou ouviram falar na liturgia entre Tops e bottons e, fazendo uma idéia errada do que é ser um Dominador, passam a tratar submissas com grosseria e arrogância, imaginando ser necessariamente assim que se porta um autêntico Dominador e que assim irão atraí-las. Despertam com isso antipatia não só por si, mas também pela figura do Dominador, o que é lamentável. Mas autênticas submissas sabem separar o que faz este indivíduo de um Dominador Sádico autêntico.

Outros motivos, além do sexo fácil, podem levar um indivíduo a se passar por um Dominador BDSM. Um indivíduo violento, portador de profundas frustrações e traumas, que necessita de auto-afirmação para livrar-se do complexo de inferioridade, pode se aproveitar da posição de Dominante numa sessão para descarregar toda sua violência reprimida socialmente sob o pretexto de ter prazer erótico nisso, o que para uma submissa autêntica é o suficiente, pois dar prazer é o seu prazer. Este indivíduo vê numa escrava submissa ou submisso apenas um "saco de pancadas" para sua insana terapia e não uma fonte de prazer, portanto engana, não é um autêntico Dominador Sádico, mas apenas um homem violento e frustrado, tentando covardemente sentir-se melhor numa posição que não é a sua e não lhe pertence legitimamente. (Não confundir um Dominador mais severo e sádico com este indivíduo).

Faz-se necessário salientar a diferença entre um Dominador iniciante, sem muita experiência, ou um Dominador mais "light" de um falso Dominador. A maior diferença são os objetivos da Dominação, a sinceridade e transparência de propósitos, o que uma submissa ou submisso mais atencioso e de bom senso poderá constatar nos contatos que tiver e nas informações que colher. Um Dominador autêntico, seja "light" ou iniciante, traz dentro de si a vocação para Dominar e não faz montagens ou imitações do que leu ou ouviu por ai. Não precisa passar-se por alguém que não seja, almejando atingir objetivos escusos. Um iniciante ou "light" autênticos sentem prazer sincero nas práticas SM e/ou no jogo D/s e seu interesse em tais coisas poderá ser notado se, com mais atenção e sagacidade, forem avaliados. Há que se avaliar quais os objetivos reais do Dominador. Exclusivamente o prazer erótico obtido através das práticas SM e/ou do jogo D/s, onde o sexo seja apenas mais uma das inúmeras práticas do jogo e não o único objetivo? Eis um Dominador autêntico diante de ti, bottom, aproveite!

Não é correto dizer que um Dominador é um falso Dominador apenas por não ser tão simpático como se desejaria, ou porque não satisfez determinada escrava, submetendo-se às suas vontades ou ao seu jeito de ser Dominada, ou ainda porque sua ex-sub, muito magoada com o fim do relacionamento, sai por ai difamando-o injustamente; nem tampouco por não haver nele afinidades com certa escrava submissa, ou por ter pontos de vista SM ou D/s diferentes da maioria, desde que estes pontos de vista não sejam distorcidos para atender às suas conveniências pessoais, distantes do SM e do D/s verdadeiros.

Bem, muito há para se falar e se aprender em termos de Sadomasoquismo e para quem está entrando nesse universo agora, espero ter dado a minha contribuição para que sua permanência nele seja repleta de prazeres e satisfação, reduzindo um pouco mais as eventuais frustrações que possam surgir em sua jornada como sub ou como Dom.



texto pesquisado em <http://br.geocities.com/domtormentos/falso_dom.htm>


Falsa sub











Pode não parecer, mas como existem os falsos Dominadores, existem também os falsos submissos e submissas. Os motivos que levam as pessoas a este embuste são diversos e para tratar da falsa submissão vou dividir o assunto em duas partes. A primeira parte; a falsa submissão feminina e a segunda; a falsa submissão masculina.

PRIMEIRA PARTE:

O que torna uma submissa uma falsa submissa, como é de se imaginar, são os objetivos da sua submissão. Desde que não seja o sincero prazer erótico obtido através do ato de servir ao Dominador que ela escolher e aceitar, ela é uma falsa submissa. Ela pode aceitar se submeter porque apaixonou-se ou ama um Dominador ou Sádico, mas não sente nenhum prazer na prática e sinceramente desejaria que Ele fosse diferente. Nesse caso a sua carência afetiva a faz submissa e não o prazer erótico, ou melhor dizendo, sua carência a faz uma falsa submissa. Outras vezes por frustrações nos seus relacionamentos convencionais, onde os homens aparentemente são muito mais exigentes quanto a beleza física, atributo do qual ela não é lá muito bem dotada, e a concorrência é grande, ela resolve conhecer novos universos, mas mais uma vez por pura carência afetiva. Nesse caso ela acaba por conhecer um Dominador e aceita submeter-se às práticas BDSM em troca de um pouco de afeto e atenção, mas isso não a faz uma autêntica submissa, cujo o prazer está no servir e não na pessoa em si, ou no preenchimento de uma lacuna afetiva aberta na alma.
Não é culpa do Dominador não conseguir êxito com tais submissas, porque na verdade são falsas submissas, incapazes de se entregar realmente pelo prazer da submissão. Só conseguem "se entregar" se conquistadas como qualquer outra mulher comum e muitas vezes durante a relação tentam inverter os papeis manipulando o Dominador para atender suas vontades e exigências, à base de chantagens emocionais e de um conceito distorcido de D/s
As vezes até conseguem e muitas já até sondam antes da entrega essa possibilidade. Não havendo não se entregam. O curioso é que se não conseguem, acusam-no muitas vezes de mau Dominador e se conseguem, embora o aprovem, lhe façam reverências e louvem o seu nome para melhor convencerem, ele comprova ser um mau Dominador, vergando-se aos caprichos sutis e exigências veladas de sua suposta escrava, em detrimento de suas próprias vontades.
É perfeitamente possível que a mulher por trás da escrava apaixone-se pelo homem por trás do Dominador e vice versa, mas sua submissão não deve estar condicionada a isso, mas às qualidades, características e afinidades que ele apresentar como Dominador. É isso o que interessa a uma autêntica escrava submissa quando está disponível e em busca de relacionamento.
Outros motivos para a falsa submissão existem e podem ser também, desde a simples busca de novas e momentâneas aventuras no campo sexual, até o desequilíbrio emocional e a tentativa de expiar através de um Sádico culpas que traga consigo, arquivadas nos labirintos do inconsciente.
Uma submissa iniciante, porém autêntica, pode começar errado e ter até propósitos menos sérios de início, por falta de informação, mas com o tempo vai se aperfeiçoando, até fazer reluzir todo o brilho de sua submissão. Já a falsa submissa não evolui, não adianta treinamento. Ela não quer sinceramente ser escrava, os seus objetivos, embora velados e talvez até inconscientes, são outros. Insiste em fazer prevalecer as suas vontades e não há nunca Dominador o bastante para ela, até talvez encontrar um suposto Dom que lhe atenda aos caprichos de mulher comum.
Algumas mulheres confundem o desejo comum, que a maioria das mulheres tem, em algum momento, de se relacionar sexualmente com um homem viril, que na cama, as posicione e manipule seus corpos com mais energia e as possua sexualmente de uma forma mais vigorosa e rude, com submissão no BDSM.
Gostar de ser manipulada com mais energia por seus amantes na cama, estarem sempre dispostas a fazer sexo com ele ou até mesmo aceitar uns tapas na cara nessa hora, sendo chamadas de prostitutas, não significa submissão BDSM. Uma relação D/s verdadeira extrapola em muito o ato sexual, porém tampouco é submissão entregar toda a vida a um suposto Dominador por pura conveniência, para que ele resolva todos os problemas ou diga como o fazer, já que assume o comando dela. Isto seria mais preguiça e comodismo que submissão.
SEGUNDA PARTE:
A falsa submissão masculina tem a mesma base, ou seja, da mesma forma, é quando não há no homem a vocação sincera, vinda de dentro de si, para se submeter e servir a uma mulher. Muitas vezes eles se submetem, ou tentam, à mulheres Dominadoras, Dommes, apenas para satisfazerem um fetiche ou fantasia, que necessariamente não significa submissão, como por exemplo, a prática da podolatria e da inversão de papéis. Já que Dommes exigirão ter seus pés beijados por seus escravos com certa freqüência e muitas se valerão da inversão de papeis (ela, utilizando vibrador preso à cintura, faz o papel do homem, penetrando-o no ânus e ele o da mulher, sendo penetrado), como forma de humilhação e tortura, eles se dispõem, digamos, a aceitar o restante em troca disto. Tais práticas necessariamente não são Sadomasoquistas e podem ser praticadas com mulheres comuns - "baunilha" - um pouco mais liberais, entretanto, não é comum elas aceitarem sem algum preconceito, por isso, muitos homens se passam por submissos apenas para conseguirem das Dominadoras BDSM a realização destas fantasias. Mas isso não faz deles autênticos submissos, já que o prazer não está na prática da submissão à uma mulher em si, mas na realização de determinado fetiche ou fantasia, utilizando-se da submissão apenas como um meio para isso e não um fim.
Existe em ambas as situações acima, tanto na submissão feminina como na masculina a questão da adequação e da afinidade entre Top e bottom, quanto as práticas a serem executadas nas sessões, mas quase sempre são muitos os limites de um falso submisso ou submissa. Procuram evitar as principais e mais básicas práticas SM que causem dor física, optando sempre pelo Bondage, o D/s a seu modo, o sexo e o Spanking, quando não simulado, muito moderado, além do próprio fetiche, é claro.
Sempre que a submissão for utilizada como meio de se obter algo que não seja o prazer erótico proporcionado por ela mesma, ou para manipulação sorrateira de quem Domina, com qualquer outro objetivo além do sincero e despretensioso servir e dar prazer, não é uma submissão autêntica, mas sim uma espécie de dominação pelo avesso, uma deturpação do conceito de submissão e de Dominação e assim não é possível a prática de um D/s verdadeiro.
Finalizando, desejo a você que está interessado em penetrar com seriedade no mundo BDSM, que busque, informe-se e usando de toda sua sinceridade, seja o conhecedor mais profundo de si mesmo e seja muito bem vindo. Tenha e dê muito prazer e não pare de estudar a si mesmo nem o BDSM e/ou Sadomasoquismo.

texto pesquisado em : <http://br.geocities.com/domtormentos/falsa_sub.htm>

AFINIDADE












A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois
que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples
e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro,
quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,
veremos ou falaremos.

Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem
para buscar sintomas com pessoas distantes,
com amigos a quem não vemos, com amores latentes,
com irmãos do não vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.

Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois
encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir
restituir o clima afetivo de antes,
é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta,
ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,
plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.

Arthur da Távola

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ladrões e ladrões...















Encontrei-me com o Padre Antônio Vieira que não via há bem trezentos anos. Ele me disse: "Os ladrões que mais própria e dignamente merecem esse título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem. Estes roubam cidades e reinos. Os outros furtam debaixo de seus riscos. Estes roubam sem temor porque sem perigo. Os outros, se furtam, são enforcados. Estes furtam e enforcam. Que tal?"

Respondi: "Bom".


Millôr Fernades- OESP 25/07/99

E a liberdade de expressão,ó.....



Mais uma vez meu perfil orkut, como o de muitos amigos e amigas, foi deletado, e mais uma vez estou retornando.Infelizmente, vivemos em uma sociedade de contrastes e injustiças, onde o conhecimento permaneceu por milênios como privilégio de um grupo religioso minoritário, porem poderoso, aliciador de impérios e imperadores, de príncipes e principados.Esse grupo era quem ditava as regras, produzia artesanalmente e mantinha sob sua guarda todo o material literário e filosófico, fazia e desfazia reinados, enquanto a plebe emburrecia e sustentava o clero e seus asseclas com a produção. Até hoje, quando oficialmente a igreja esta separada do estado, nenhum governo assume sem antes se ajoelhar e beijar a mão e o anel simbólico de poder da igreja sobre o estado.E não seria diferente em nossa nação tupiniquim.A pátria está de 4, apática, conformista, feliz com "panis et circus"...e a liberdade de expressão existe apenas no papel, "pró-forma"...os falso-moralistas e auto denominados "donos da verdade" ditam as regras de acordo com valores preconceituosos, teocráticos e oligárquicos...pobre sociedade contemporânea...pobres gerações futuras, que terão seu caráter formado em bases tão frágeis, falsas, onde aquilo que se prega não é aquilo que se faz...continuemos com nossa filosofia de vida baseada na realidade daquilo que sentimos e pensamos, e nos ideais nos quais acreditamos...parafraseando uma campanha de marketing, "isso não tem preço".

SeuDonoeSenhor
SDS

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Pensamentos - Sobre a relação D/s









Uma relação D/s (Dominação/submissão) pressupõe algo básico e indispensável para ter sucesso e ser gratificante, cumprindo aquilo que é sua razão de ser (gerar prazer) : a existência de alguém que sinta prazer em dominar e a de alguém que sinta prazer em ser dominado(a) ; e se a relação envolver SM (Sadomasoquismo), a existência de alguém que sinta prazer em causar dor, e de alguém que tenha prazer em sentir dor.Podem parecer definições desnecessárias de tão óbvias, mas não são, ainda existe muita gente que desconhece ou ignora tais conceitos.Se uma das partes não sentir prazer ou se recusar por qualquer motivo a exercer seu papel característico, pode haver qualquer tipo de relação, menos uma relação D/s.
A relação D/s pode sim, e deve, ser muito gratificante e prazerosa, desde que haja harmonia entre os papéis desempenhados pelas pessoas envolvidas, e que haja prazer, felicidade naquilo que se decidiu espontaneamente assumir, que esteja em sintonia com o que se sente.Os papéis são claros: ou se cede poder, ou se recebe poder, o meio termo não tem como existir, a relação sucumbe, já nasce morta.Na relação D/s-SM não existe uma sub que comanda, que decide, isso é balela, incongruência, falência.Uma sub que tenta assumir o comando da relação, direta ou indiretamente, engana-se a si própria, está no lugar errado, agindo de forma errada, perdendo o próprio tempo e fazendo com que outros percam também.Precisa urgentemente rever posições e conceitos com relação ao SM e diante da própria vida.

SeuDonoeSenhor
SDS

sábado, 22 de março de 2008

O poder do silêncio





Pense em alguém poderoso.

Essa pessoa briga e grita como uma galinha ou olha em calmo silêncio, como um lobo? Lobos não gritam. Eles têm uma aura de força e poder. Observam em silêncio. Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio.

Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas.

O erro não dito é um silencioso acerto

Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos. Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis. Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia e continua a trabalhar mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota. Olhe. Sorria. Silencie.Vá em frente.

Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar. Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso.

Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques. Não é verdade. Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir. Você nem mesmo é obrigado a atender seu telefone pessoal. Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça.

Você pode escolher o silêncio.

Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu Xenócrates, mais de trezentos anos antes de Cristo, ao afirmar: "me arrependo de coisas que disse, mas jamais de meu silêncio".

Durante os próximos sete dias, responda com o silêncio, quando for necessário. Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais. Use o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não ter que responder em alguns momentos. Você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas. E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.

Aldo Novak