quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Aurora

Tive nos braços a aurora de verão.
.......... Nada se movia ainda na fachada dos palácios. A água estava morta. Os campos de sombras não deixavam o caminho do bosque. Caminhei, despertando as respirações vivas e tépidas; e as pedrarias olharam, e as asas se levantaram sem ruído.
.......... O primeiro acontecimento foi, no atalho já pleno de fulgores frescos e pálidos, uma flor que me disse seu nome.
.......... Ri à loura cascata que desceu desgrenhada através dos pinheiros; pelo cimo prateado reconheci a deusa.
.......... Então levantei, um a um, os véus. Na alameda, agitando os braços. Na planície, onde a denunciei ao galo. Na grande cidade, ela fugia entre os campanários e as cúpulas e, correndo como um mendigo sobre os cais de mármore, eu a perseguia.
.......... No alto da estrada, perto de um bosque de loureiros, eu a cingi com seus véus amontoados, e senti um pouco seu imenso corpo. A aurora e a criança caíram na orla do bosque.
.......... Quando acordei, era meio-dia.

Arthur Rimbaud

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