Vou-me embora pra Pasárgada
             Lá sou amigo do rei
             Lá tenho a mulher que eu quero
             Na cama que escolherei
             Vou-me embora pra Pasárgada
           
           
             Vou-me embora pra Pasárgada
             Aqui eu não sou feliz
             Lá a existência é uma aventura
             De tal modo inconseqüente
             Que Joana a Louca de Espanha
             Rainha e falsa demente
             Vem a ser contraparente
             Da nora que eu nunca tive
           
           
             E como farei ginástica
             Andarei de bicicleta
             Montarei em burro brabo
             Subirei no pau-de-sebo
             Tomarei banhos de mar!
             E quando estiver cansado
             Deito na beira do rio
             Mando chamar a mãe-d'água
             Pra me contar as histórias
             Que no tempo de eu menino
             Rosa vinha me contar
             Vou-me embora pra Pasárgada
           
           
             Em Pasárgada tem tudo
             É outra civilização
             Tem um processo seguro 
             De impedir a concepção
             Tem telefone automático
             Tem alcalóide à vontade
             Tem prostitutas bonitas 
             Para a gente namorar
           
           
             E quando eu estiver mais triste
             Mas triste de não ter jeito
             Quando de noite me der 
             Vontade de me matar
             — Lá sou amigo do rei —
             Terei a mulher que eu quero
             Na cama que escolherei
             Vou-me embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira
  
terça-feira, 12 de maio de 2009
Vou-me embora pra Pasárgada
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