Estou farto do lirismo comedido
             Do lirismo bem comportado
             Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
             protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
             Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
             o cunho vernáculo de um vocábulo.
             Abaixo os puristas
             Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
             Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
             Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
             Estou farto do lirismo namorador
             Político
             Raquítico
             Sifilítico
             De todo lirismo que capitula ao que quer que seja 
             fora de si mesmo
             De resto não é lirismo
             Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
             exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
             maneiras de agradar às mulheres, etc
             Quero antes o lirismo dos loucos
             O lirismo dos bêbedos
             O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
             O lirismo dos clowns de Shakespeare
             
             
             — Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Manuel Bandeira
terça-feira, 12 de maio de 2009
Poética
Assinar:
Postar comentários (Atom)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
   
 



Nenhum comentário:
Postar um comentário