segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Diálogo do romance "A escrava Isaura"

O texto é uma passagem do romance de Bernardo Guimarães “A Escrava Isaura”.


-Perdão, senhor!... Exclamou Isaura aterrada e arrependida das palavras que lhe tinham escapado.

- E, entretanto, se te mostrasses mais branda comigo... Mas não, é muito me aviltar diante de uma escrava; que necessidade tenho eu de pedir aquilo que de direito me pertence? Lembra-te, escrava ingrata e rebelde, que em corpo e alma me pertences, a mim só, e a mais ninguém. És propriedade minha; um vaso, que tenho entre as minhas mãos e que posso usar dele ou despedaçá-lo a meu sabor,

- Pode despedaçá-lo, meu senhor; bem o sei; mas, por piedade, não queira usar dele para fins impuros e vergonhosos. A escrava também tem coração, e não é dado ao senhor querer governar os seus afetos.

- Afetos!... Quem fala aqui em afetos!!! Podes acaso dispor deles?...

- Não, por certo, meu senhor; o coração é livre; ninguém pode escravizá-lo, nem o próprio dono.

- Todo o teu ser é escravo; teu coração obedecerá, e se não cedes de bom grado, tenho por mim o direito e a força.