O ponto de vista feminino tem sido muito mais difícil de expressar que o
masculino. Se assim me posso exprimir, o ponto de vista feminino não passa pela
racionalização por que o intelecto do homem faz passar os seus sentimentos. A
mulher pensa emocionalmente; a sua visão baseia-se na intuição. Por exemplo,
ela pode ter um sentimento em relação a qualquer coisa que nem sequer é capaz
de articular. A princípio, achei extremamente difícil descrever como me sentia. Porém, se
fazemos psicanálise, a questão é sempre: «Como é que se sentiu em
relação a isso?» e não «O que é que pensou?» E como muito frequentemente
a mulher não deu o segundo passo, que é explicar a sua intuição - por que
passos lá chegou, o a-b-c daquilo - ela não consegue ser tão articulada.
Ora eu tentei fazer
isso (quer tenha conseguido quer não), e, porque estava a escrever um diário
que pensava que ninguém leria, consegui anotar o que sentia acerca das pessoas
ou o que sentia acerca do que via sem o segundo processo. O segundo processo
veio através da psicanálise, que era igualmente um método de comunicar com o
homem em termos de uma racionalização das nossas emoções de modo que pareçam
fazer sentido ao intelecto masculino. Por isso existe uma diferença, penso eu,
que é muito profunda, mas que está a começar a desaparecer. Com efeito, penso
que, quando a geração mais jovem passa por qualquer experiência psicanalítica,
descobre que os sonhos dos homens e das mulheres são os mesmos, o inconsciente
é universal, e que aí as coisas brotam do sentimento e do instinto e não
passaram pelo processo de racionalização, e, portanto este é um ponto de vista feminino.
Anais Nin in "Fala Uma Mulher”.
Anais Nin in "Fala Uma Mulher”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário