Sendo teu escravo, o que fazer senão atender
Às horas e aos chamados de teu desejo?
Não tenho tempo algum para mim,
Nem serviços a fazer, até que me peças.
Nem ouso repreender a hora do mundo sem fim,
Enquanto eu, minha soberana, sigo tuas horas,
Nem penso que a solidão da ausência seja amarga,
Após dispensar teu servo de teu serviço;
Nem ouso questionar com meus ciúmes
Onde andarás, ou imaginar o que fazes,
Mas, como um triste escravo, sento-me e não penso,
Salvo, onde estás e quão feliz fazes a todos:
Então, que tolo é o amor, que, sob teu jugo
(Embora nada faças), nenhum mal o assombre.
Soneto LVIII
- Que Deus me perdoe, por me tornar teu escravo,
- Que eu deva pensar em velar tuas horas de prazer,
- Ou para ti contar os momentos de ansiedade,
- Sendo teu vassalo disposto a estar à tua mercê.
- Ó deixa-me sofrer, sob tua vista,
- A ausência aprisionada de tua liberdade,
- E domada pela paciência para sofrer a cada vez
- Sem te acusar de me injuriares.
- Estejas onde estiveres, teu jugo é tão forte,
- Que podes privilegiar teu tempo
- Para o que quiseres; a ti somente cabe
- Perdoar-te por teus próprios crimes.
- Devo esperar, embora esperar seja o inferno,
- Sem culpar teu prazer, seja ele o mal ou o bem.